Para que você saiba o que é e como funciona o implante coclear é importante que voce conheça como é e como funciona o ouvido normal.
O ouvido é constituído de várias partes, cada uma com uma função específica:
1-Ouvido externo: é a parte visível, constituída
pela orelha e pelo canal do ouvido.
2-Orelha média: é composta pela membrana do tímpano
e por 3 pequenos ossos (martelo, bigorna e estribo).
3-Orelha interna: formada pela cóclea, que contém
as células com pequenos pelinhos (cílios) que transformam
a vibração em sinais elétricos sensoriais da audição
(células ciliadas).
4- Nervo auditivo: os impulsos elétricos são transmitidos ao nervo auditivo, e daí conduzidos até o cérebro, onde serão interpretados.
O ouvido transforma os sons em sinais elétricos que o cérebro é capaz de entender.
1) Os sons alcançam o OUVIDO EXTERNO...
2) Passam pelo CONDUTO AUDITIVO EXTERNO (canal do ouvido)...
3) E atingem o TÍMPANO, que vibra.
4) As vibrações do TÍMPANO chegam até três pequenos ossos do OUVIDO MÉDIO (martelo, bigorna e estribo), que vibram e amplificam o som como um sistema de alavancas...
5) As vibrações aplificadas são conduzidas aos líquidos do OUVIDO INTERNO (cóclea)...
6) Em seguida, atingem as CÉLULAS RECEPTORAS, que transformam as vibrações em impulsos elétricos.
7) Estes impulsos caminham através do NERVO AUDITIVO até o cérebro, que os percebe como sons.
Esquema das principais estruturas que compõem o ouvido.
O implante coclear, ou mais popularmente conhecido como ouvido biônico, é um aparelho eletrônico de alta complexidade tecnológica, que tem sido utilizado nos últimos anos para restaurar a função da audição nos pacientes portadores de surdez profunda que não se beneficiam do uso de próteses auditivas convencionais.
Trata-se de um equipamento eletrônico computadorizado que substitui totalmente o ouvido de pessoas que tem surdez total ou quase total. Assim o implante é que estimula diretamente o nervo auditivo através de pequenos eletrodos que são colocados dentro da cóclea e o nervo leva estes sinais para o cérebro. É um aparelho muito sofisticado que foi uma das maiores conquistas da engenharia ligada à medicina. Já existe há alguns anos e hoje mais de 100.000 pessoas no mundo já o estão usando.
Quais são as partes do que compõem o implante coclear?
O implante coclear é composto por duas partes: uma unidade interna
e outra externa.
A unidade interna
É implantada cirurgicamente dentro o ouvido do paciente. Esta unidade
possui um feixe de eletrodos que será posicionado dentro da cóclea
(órgão da audição com formato de caracol).
Este feixe de eletrodos se conecta a um receptor (decodificador) que ficará localizado
na região atrás da orelha, implantado por baixo da pele.
Junto ao receptor fica a antena e o imã que servem para fixar a
unidade externa e captar os sinais elétricos.
A unidade externa
A unidade externa é constituída por um processador de fala,
uma antena transmissora e um microfone. A unidade externa é a parte
do implante que fica aparente e pode ser de dois tipos: retroauricular
ou tipo caixa. A antena transmissora possui um imã que serve para
fixá-lo magneticamente junto a antena da unidade interna ( que também
possui um imã).
O microfone capta o som do meio ambiente e o transmite
ao processador de fala. O processador de fala seleciona e analisa os elementos
sonoros, principalmente os elementos da fala, e os codifica em impulsos
elétricos que serão transmitidos através de um a cabo
até a antena transmissora. A partir da antena transmissora o sinal é transmitido
através da pele por meio de radiofreqüência e chega até a
unidade interna. Na unidade interna temos o receptor estimulador interno,
que está sob a pele. O receptor estimulador contém um "chip" que
converte os códigos em sinais eletrônicos e libera os impulsos
elétricos para os eletrodos intracocleares estimulando diretamente
as fibras no nervo auditivo. Esta estimulação é percebida
pelo nosso cérebro como som. Desse modo, o paciente recupera parte
da audição e pode voltar a se comunicar com as pessoas.
PACIENTES QUE SE BENEFICIAM COM O IMPLANTE COCLEAR
O paciente candidato ao implante coclear é aquele que possui surdez severa a profunda bilateral, que fez uso de prótese auditiva, mas não obteve resposta satisfatória (resultados mínimos satisfatórios).Nós dividimos os pacientes em dois grupos que apresentam indicação e resultados diferentes.
Existem aqueles pacientes que ouviam e por algum motivo perderam a audição, que nós denominamos de pacientes pós-linguais. E existem também aqueles pacientes que são surdos desde o nascimento ou perderam a audição muito cedo antes mesmo de aprenderem a falar, que nós denominamos de pacientes pré-linguais.
Critérios básicos de indicação do implante coclear:
Pacientes pós-linguais:
Deficiência auditiva neurosensorial bilateral de grau severo a profundo que não se beneficiarem do aparelho de amplificação sonora individual (AASI), ou seja, apresentarem escores inferiores a 40% em testes de reconhecimento de sentenças com o uso da melhor protetização bilateral possível.
Não existe limite de tempo para a realização do implante coclear neste grupo, porém quanto maior o tempo de surdez, piores serão os resultados.
Pacientes pré-linguais:
Deficiência auditiva neurosensorial bilateral de grau severo a profundo, com reabilitação fonoaudiológica efetiva há pelo menos 6 meses (crianças de 0 a 18 meses) ou desde a realização do diagnóstico (crianças maiores de 18 meses), que não se beneficiarem do aparelho de amplificação sonora individual (AASI).
Neste grupo a idade do paciente é importante.
Nas crianças, a idade ideal é entre 1 ano e 5 anos de idade, sendo que quanto mais precocemente o paciente é implantado, melhores serão os resultados.
A partir dos 5 anos os pacientes também podem ser implantados, porém os resultados dependerão de outros fatores como o grau de desenvolvimento da linguagem já adquirida e do trabalho de estimulação auditiva prévia, como uso de prótese auditiva e capacidade de realização de leitura orofacial e linguagem de sinais.
O implante coclear é um processo complexo que exige a atuação conjunta de um equipe multidisciplinar (vários profissionais de especialidades diferentes) para que se alcance o sucesso do tratamento.
A equipe é composta por um médico otorrinolaringologista, um fonoaudiólogo e um psicólogo (todos os membros da equipe têm que ter especialização em implante coclear).
A avaliação do paciente candidato ao implante coclear é um processo complexo e pode ser demorado, pois existem etapas que devem ser obrigatoriamente seguidas e cumpridas em todos os pacientes para que seja conseguido o melhor resultado possível em benefício do paciente.
Avaliação médica
Inicialmente o paciente deve ser avaliado pelo otorrinolaringologista para o diagnóstico da causa, tipo e a gravidade da surdez.
O médico avalia se a causa que levou a surdez permite que seja realizado o implante coclear.
Também é importante que seja estudada a existência de outras doenças, pois o paciente deve ser avaliado como um todo e não apenas a audição.
Avaliação fonoaudiológica
A próxima etapa é a avaliação pela fonoaudióloga, que realizará uma série de testes auditivos e de linguagem, assim como exercícios que prepararão o paciente para receber o implante coclear.
A avaliação da fonoaudióloga pode ser demorada e depende muito de cada caso e da motivação do paciente, esta avaliação é composta por:
- Avaliação do grau de surdez: temos que ter certeza que
a surdez é mesmo profunda.
- Avaliação da adaptação do paciente com a
prótese
auditiva convencional: temos que ter certeza que uma
prótese convencional
já não seria suficiente para atender a necessidade do paciente.
- Avaliação de linguagem emissiva (fala, uso de língua
de sinais e escrita - em pacientes já alfabetizados) e receptiva
(realização efetiva de leitura orofacial, uso de língua
de sinais e escrita).
Quando algum destes aspectos não é satisfatoriamente atendido o paciente pode ser encaminhado para reabilitação fonoaudiológica por período determinado, e posterior retorno para avaliação. Neste período poderá ser necessário:
- Treinamento em leitura orofacial para crianças maiores e adultos:
Este treinamento é essencial na fase pré implante e muda
muito o resultado final quando bem realizado.
- Treinamento auditivo (melhorando muitas vezes o desempenho
do paciente com prótese convencional, ou o resultado final com implante)
- Terapia de estimulação de linguagem
Avaliação psicológica
É muito importante que sejam avaliados os aspectos psicológicos do paciente e das pessoas que convivem com ele no dia a dia. É importante que o psicólogo avalie se o paciente está preparado para ser submetido a uma cirurgia, se aceita o fato de viver com uma prótese implantada dentro da cabeça, se os familiares estão motivados e apóiam esta decisão (nós consideramos o apoio e a participação da família fundamentais). Devemos avaliar também o grau de expectativa do paciente e se ele tem consciência dos resultados que podem ser atingidos. O paciente tem que estar ciente de tudo o que está acontecendo e a equipe deve expor tudo de uma forma clara e sincera, pois nós acreditamos que uma relação de confiança mútua entre o paciente e a equipe seja fundamental.
No final do processo pré cirúrgico o paciente é submetido a avaliação pré operatória para que seja avaliada todos os possíveis riscos cirúrgicos e a cirurgia seja realizada da forma mais segura possível.
Audiometria completa.
Audiometria em campo com uso de AASI
BERA
Emissões otoacústicas
Tomografia computadorizada e Ressonância magnética.
A colocação da unidade interna é realizada através de uma cirurgia que tem duração aproximada de 2 horas.
É realizado sob anestesia geral, ou seja, o paciente estará entubado e inconsciente e não sentirá nada durante todo procedimento.
1) O corte (incisão): A cirurgia é realizada toda atrás
da orelha e um pequeno corte na pele de aproximadamente 4 cm.
2) Colocação dos eletrodos: É realizado uma abertura na cóclea (órgão da audição com formato de caracol) e os eletrodos são inseridos dentro da cóclea perfazendo uma volta completa em seu interior.
3) Fixação do processador interno: o processador interno é colocado embaixo do couro cabeludo atrás da orelha (o paciente sentirá uma pequena elevação no local).
4) No final da cirurgia fecha-se a pele com pontos e um curativo compressivo é colocado no local.
Primeiramente existem os riscos que existem em todas as cirurgias com anestesia geral, mas com o desenvolvimento da medicina, hoje em dia são muito mais raras se realizados em bons hospitais.
Os riscos próprios do procedimento são pouco frequentes, mas podem ocorrer. Abaixo listamos em ordem de freqüência:
- Insucesso na colocação do implante coclear: pode ocorrer
se houver alterações anatômicas no ouvido do paciente,
seja por um defeito congênito (de nascença) ou por seqüelas
de infecção ou fraturas.
- Infecção e necrose da pele: é devido ao fato de
se colocar uma prótese sob a pele, se ocorrer pode ser tratada se
diagnosticada rapidamente.
- Tontura: Pode ocorrer porque o órgão que faz agente escutar
também é responsável pelo equilíbrio, mas é uma
complicação transitória que melhora rapidamente em
poucas semanas.
- Paralisia facial: é a complicação mais temida. Pode
ocorrer porque o nervo que faz a mímica da face passa muito próximo
do local da cirurgia. Para evitar esta complicação é utilizado
um aparelho chamado monitor de nervo facial que diminui
o risco desta complicação.
Esta complicação apesar de possível é muito
rara e geralmente melhora após algumas semanas de tratamento.
- Meningite e fístula liquórica: Foram complicações
que ocorreram no início dos implantes cocleares. Hoje em são
complicações extremamente raras.
Na maioria dos casos o paciente recebe alta no dia seguinte
da cirurgia.
O curativo com faixa por 24 horas e os pontos serão retirados em
2 semanas.
A ativação do implante coclear ocorre 30 a 40 dias após
o procedimento.
Depois inicia-se o processo de programação e adaptação
do paciente ao implante coclear com consultas com a fonoaudióloga.
Essas avaliações no início serão semanais e
depois quinzenais e mensais.
Não lavar a cabeça por 3 dias. Após 3 dias pode lavar a cabeça mas deve-se tomar cuidado pra não deixar entrar água dentro do ouvido operado protegendo-o com um tampão até o retorno com o cirurgião.
Dormir com o ouvido operado para o lado de cima por 14 dias.
Não fazer esforço físico ou tomar sol por 30 dias.
Não deixar de tomar corretamente a medicação prescrita pelo médico e não deixar de comparecer ao retorno pós operatório.
Não existem restrições à alimentação.
Se fizer uso de prótese auditiva no outro ouvido pode colocá-la logo no primeiro dia após a cirurgia.
O implante coclear é uma prótese e pode quebrar se sofrer um traumatismo sobre ela.
O paciente implantado não deve praticar esportes violentos como lutas ou outras atividades com grande risco de bater a cabeça.
-Realizar exame de ressonância magnética ou chegar perto da
sala de exame: o implante é composto de um metal que pode ser atraído
violentamente pelo aparelho de ressonância magnética podendo
levar a complicações graves. Existem alguns modelos que permitem
realizar o exame em condições muito especiais, mas é obrigatório
avisar o seu otorrino e o radiologista sempre que for solicitado um exame
de ressonância magnética.
- Manter o aparelho desligado no pouso e na decolagem
de aeronaves: funciona como qualquer aparelho eletrônico e pode interferir
nos aparelhos de controle da aeronave.
- Uso de bisturi elétrico: é proibido o seu uso em pacientes
com implante coclear, pois podem queimar a unidade interna.
Avisar o médico
toda vez que for ser submetido a uma cirugia.
- Ultra-sonografia diagnóstica.
- Radiografia simples.
- Tomografia computadorizada.
- Luz ultra violeta de clínicas odontológicas.
- Sistema de detectores de metais: o implante coclear
irá disparar toda vez que passar por estes dispositivos (geralmente
estão presentes em portas de bancos e aeroportos). Por isso, é aconselhável
andar sempre com o comprovante emitido pelo fabricante,
comprovando que o paciente é mesmo implantado.
- Radiação eletromagnética: monitores de computador,
televisores, forno de microondas. A proximidade destes
dispositivos podem alterar a qualidade sonora ou interferir
no transmissão
de dados entre as unidades interna e externa.
- Sistema de vigilância de lojas: desligar o aparelho quando for
passar através da porta de lojas que possuem sistema eletrônico
de vigilância (são aqueles aparelhos que apitam quando alguém
tenta sair com um produto sem passar pelo caixa). O implante
coclear geralmente não dispara estes aparelhos, mas pode ocorrer
distorção
no som e desconforto para o usuário de implante.
(Portaria nº 1.278/GM Em 20 de outubro de 1999)
IMPLANTE EM ADULTOS
O Implante Coclear em adultos deverá seguir os seguintes critérios de indicação:
a) pessoas com surdez neuro-sensorial profunda bilateral
com código lingüístico estabelecido (casos de surdez
pós-lingual ou de surdez pré-lingual, adequadamente reabilitados);
b) ausência de benefício com prótese auditiva (menos
de 30% de discriminação vocal em teste com sentenças);
c) adequação psicológica e motivação
para o uso de implante coclear.
IMPLANTE EM CRIANÇAS
O Implante Coclear em crianças, menores de 18 anos com surdez pré e pós-lingual, deverá seguir os seguintes critérios de indicação:
a) experiência com prótese auditiva, durante pelo menos três
meses;
b) incapacidade de reconhecimento de palavras em conjunto
fechado;
c) família adequada e motivada para o uso do implante coclear;
d) condições adequadas de reabilitação na cidade
de origem.
CRITÉRIOS DE CONTRA-INDICAÇÃO
Está contra-indicado o Implante Coclear nos seguintes casos:
a) surdez pré-lingual em adolescentes e adultos não reabilitados
por método oral;
b) pacientes com agenesia coclear ou do nervo coclear;
c) contra-indicações clínicas.
Apesar dos amplos critérios de indicação, não são todos os pacientes que se beneficiam do implante coclear. Por isso a avaliação e a orientação correta são fundamentais para previsão do prognóstico e direcionamento das expectativas. Muitas vezes, se o resultado será muito limitado, o implante pode não ser indicado, mesmo quando o paciente apresenta surdez profunda.
Os estudos e o acompanhamento em longo prazo mostram que os melhores resultados com o implante coclear são em pacientes com perdas de audição pós-lingual e em crianças implantadas ainda pequenas (até 2 anos e 11 meses). Nos indivíduos pós-linguais em geral se obtém cerca de 80% de reconhecimento de sentenças em formato aberto; retomada das atividades profissionais e sociais com melhora significativa na qualidade de vida e 50% de uso o telefone sem dificuldades. Nas crianças implantadas ainda bebês a aprendizagem da língua oral ocorre de maneira incidental e, em geral, o desenvolvimento é muito próximo ao de uma criança normal.
Atualmente, os benefícios com o implante coclear já estão
muito comprovados. Os resultados de 877 pacientes acompanhados em centros
na Espanha mostram ganho médio de 60% na percepção
de fala em relação ao pré-operatório de adultos
pós-linguais e de 90% de discriminação e compreensão
de fala em formato aberto de crianças implantadas antes dos 03 anos
de idade (Manrique et al., 2006).
Em crianças com idade superior a 4 anos os benefícios com
o implante coclear são altamente dependentes do seu nível
de desenvolvimento de linguagem e cognição. Quanto melhor é o
desenvolvimento lingüístico, melhor é a capacidade da
criança em processar os estímulos auditivos, associá-los
ao significado lingüístico, estabelecer regras lexicais e sintáticas
para compreensão e expressão da língua. Entende-se
por adequado nível de desenvolvimento de linguagem a criança
que, apesar da deficiência auditiva, é capaz de compreender
através de leitura labial ou LIBRAS, sem lacunas no desenvolvimento.
Essa exigência é diferente em cada faixa etária, portanto
quanto mais velho é o indivíduo, maior domínio da
língua é necessário para que ele possa ter um bom
resultado com o implante coclear. Em um estudo com 54 crianças surdas
pré-linguais implantadas, com idade entre 4 e 12 anos no momento
da ativação e uso efetivo do implante há 1 ano, Guedes
et al. (2005) mostraram que não houve diferença significativa
entre os grupos para os fatores sexo, etiologia e médias de idade.
Porém, crianças com boa compreensão de linguagem pré-operatória
tiveram risco para melhor percepção de fala 3,6 vezes o risco
das demais crianças (p=0,009). Assim, concluíram que a compreensão
de linguagem pré-operatória, seja por LIBRAS e/ou leitura
orofacial, é um importante fator prognóstico para percepção
de fala após 1 ano, devendo ser considerado na seleção
de crianças mais velhas para o implante coclear.
Em pacientes adolescentes ou adultos com surdez pré-lingual o resultado é dependente da expectativa; pode haver um excelente ganho auditivo porém sem modificação do padrão de comunicação; o benefício é limitado e em longo prazo; e os indivíduos dificilmente chegam à percepção de fala sem pistas auxiliares (apoio de leitura labial, escrita, sinais).
Há muito tempo já é provada a importância da audição bilateral na localização sonora e na discriminação de sentenças principalmente quando existe mais de um interlocutor ou quando estamos num ambiente barulhento.
Da mesma forma, estudos realizados em pacientes surdos pós linguais têm demonstrado que pacientes que realizaram o implante bilateral apresentam melhores desempenhos auditivos nestas mesmas situações. Esta diferença de desempenho encontrada nestes estudos embora pequena é significativa.
Ainda não existem estudos conclusivos em relação a crianças pequenas com surdez congênita, porém baseado na teoria da maturação das vias auditivas que apresenta o seu maior desenvolvimento até 2 anos de idade, acredita-se que este grupo terá grande benefício com a realização precoce do implante bilateral.
Desse modo, muitos centros nos EUA e Europa têm realizado a cirurgia bilateral ao mesmo tempo na mesma cirurgia. Em nosso país, por questões econômicas e sociais, o SUS não contempla a realização do implante bilateral, o que é bem razoável quando pensamos em políticas de saúde pública no qual devemos beneficiar o maior número de pacientes com os recursos limitados que dispomos.
Há uma semana foi realizada a segunda cirurgia de implante coclear neste serviço em uma paciente que já havia colocado o implante do outro lado há 3 anos. A primeira paciente que recebeu o implante coclear bilateral neste serviço foi há 2 anos, porém foi devido a um mal funcionamento do primeiro implante. Desta vez, a paciente estava com o primeiro implante funcionando perfeitamente, e a opção da realização do implante coclear foi baseada nos mais recentes estudos e contou com a participação ativa da família nesta decisão.
Alguns argumentos contra a realização do implante coclear seria o custo maior de manutenção de dois aparelhos e a possibilidade de preservar um dos ouvidos para novas tecnologias que possam se desenvolver.
OTITES
Otite externa
É comumente causada pela umidade nos ouvidos devido ao excesso de
banhos de piscina ou praia, por isso é muito mais comum nos meses
de verão. Também pode ser causada pelo uso excessivo de cotonetes
ou qualquer outro instrumento introduzido no canal do
ouvido
O diagnóstico clínico é baseado nos sintomas que são:
dor de ouvido e sensação de ouvido entupido, e pelo exame
clínico que mostra um canal auditivo vermelho e inchado.
O tratamento é clínico, à base de medicações
tópicas e analgésicos, e geralmente se resolve em alguns
dias.
Otite média
A otite média, ao contrário da otite externa, acontece mais
nos meses de inverno. Ocorre juntamente com uma gripe ou resfriado que
acaba acometendo o ouvido, causando uma inflamação no tímpano
e na parte mais interna do ouvido. Por isso a dor é maior do que
a otite externa e a sensação de perda de audição é também
muito maior. Acomete mais crianças, e causam uma dor maior principalmente à noite
pelo resfriamento do organismo, às vezes com febre alta e mal estar
geral.
O diagnóstico também é clínico, pelo exame
físico que mostra um tímpano vermelho e abaulado, além
dos sintomas mencionados.
O tratamento já é a base de antibióticos via oral,
além de analgésicos e descongestionantes nasais, sendo que
o quadro também se resolve em alguns dias.
Otite média serosa ou secretora
É a complicação da otite média simples, descrita
anteriormente. Ocorre quando há um acúmulo de secreções
na orelha média, internamente ao tímpano, devido a gripes
freqüentes ou nas crianças que não respiram bem, por
rinites alérgicas, aumento das amigdalas e das adenóides,
dentre outras. O sintoma principal é a perda de audição,
a criança começa a ficar desatenta e o rendimento escolar
cai.
O diagnóstico é clínico, pelo exame físico
que mostra presença de secreção ou catarro por trás
do tímpano, e confirmado pelos exames de audiometria e imitanciometria,
que mostram uma perda de audição de graus variáveis
além de diminuição da vibração do tímpano.
O tratamento é à base de corticoesteróides via oral
por alguns dias, e se não houver resolução do quadro, é indicado
o tratamento cirúrgico, com colocação dos chamados
carretéis ou tubos de ventilação no tímpano,
para drenar a secreção da orelha média e impedir que
ela se forme novamente, dessa maneira restabelecendo a audição
da criança.
Perfuração de tímpano
Ocorre nas pessoas com história prévia de otites de repetição,
em que alguma dessas otites acabou perfurando o tímpano que não
cicatrizou. Pode ocorrer também por trauma, devido à cotonetes,
agressões físicas ou por pressões bruscas como ondas
do mar.
O sintoma é a diminuição da audição,
além de vazamento pelo ouvido toda vez que a pessoa deixa entrar água
no canal auditivo. Nestes casos são indicados os tampões
para natação ou praia, e mesmo na hora do banho de chuveiro.
O diagnóstico é clínico, pelo exame físico
em que notamos a perfuração, e os exames complementares são
os exames auditivos, como a audiometria, para averiguar o grau da perda
auditiva causada pela perfuração.
O tratamento é cirúrgico, com a cirurgia chamada timpanoplastia,
que é uma microcirurgia em que é colocado um enxerto para
fechamento do tímpano.
Colesteatoma
O colesteatoma é o grau mais agressivo das otites, em que ocorre
um crescimento de pele do canal auditivo para dentro do ouvido, através
de uma perfuração do tímpano, causando um vazamento
amarelado com odor fétido, além de uma perda de audição
de um grau maior.
O diagnóstico também é clínico, pelo exame
físico, e auxiliado pela tomografia computadorizada que vai mostrar
a extensão da doença.
O tratamento é cirúrgico, com a cirurgia chamada timpanomastoidectomia,
em que é feita uma reconstrução do tímpano
associada a uma limpeza de toda essa massa epidérmica que invadiu
internamente o tímpano.
Otosclerose
A otosclerose ou otospongiose se caracteriza por uma
fixação do osso chamado estribo, responsável pela
condução do som à cóclea, que é o órgão
responsável pela audição dentro do ouvido. É mais
freqüente em mulheres jovens, pois tem relação hormonal,
geralmente ocorrendo após uma gravidez.
O sintoma principal é a perda de audição, acompanhada
ou não de zumbido ou chiado nos ouvidos.
O diagnóstico é feito através da audiometria e eventualmente
da tomografia computadorizada em alguns casos.
O tratamento é cirúrgico, a cirurgia chama-se estapedectomia,
em que é feita a substituição do estribo por uma prótese
que vai restabelecer a vibração a ser transmitida para a
cóclea e para o nervo auditivo.
Surdez
A surdez ou perda de audição tem várias causas e graus,
algumas causas já foram citadas, como as otites e a otosclerose.
Porém existem outras causas de perdas auditivas relacionadas com
a cóclea ou com o nervo auditivo, e que tem um tratamento completamente
diferente.
Dependendo do grau da surdez, o tratamento pode ser feito
através de aparelhos auditivos convencionais, mas em muitos casos
estes não são suficientes para uma satisfação
auditiva e atualmente temos vários tipos de implantes auditivos
que podem ser usados para tratamento destes tipos de surdez.
Os seguintes implantes estão disponíveis em Curitiba e já fazem
parte da nossa rotina, sendo que muitas vezes os planos de saúde
fazem à cobertura deste tipo de cirurgia.
Labirintopatias
Labirintopatias são as doenças do labirinto e podem ser ocasionadas
por vários males como as alterações da coluna vertebral,
Perda Auditiva, Diabetes, alta taxa de triglicerídeos e de colesterol,
Anemia, problemas na região temporo-mandibular (maxilar), entre
outras.
Os principais sintomas das Labirintopatias são: vertigem, tontura,
vômitos, cefaléia, zumbido, náusea, entre outras formas
de mal-estar.
Labirintite é o nome conhecido popularmente e se refere ao labirinto,
que é o órgão responsável pelo equilíbrio
do corpo.
As Labirintopatias podem ser divididas de diversas maneiras
de acordo com a causa a qual ela está relacionada. A Doença
de Mènieré (aumento da pressão dos líquidos
nos canais internos da orelha) é uma das causas e se manifesta através
de episódios freqüentes e repetidos de vertigem muito forte,
perda gradativa da audição e zumbido.
A tontura é um sintoma bastante comum e está presente em
quase todas as formas de Labirintopatias. É definida como a falta
de percepção de equilíbrio da pessoa em relação
ao ambiente que a circula. A vertigem é a sensação
de seu corpo estar girando ou de as coisas estarem girando em torno de
si.
O zumbido também é um sintoma bem freqüente, acontece
quando a pessoa sente que a sua orelha produz um barulho
constantemente. Esse som irritante pode variar de volume
e de intensidade, como se fosse o barulho de uma panela pressão
assoviando, chiados, grilos, pulsação,
etc. Algumas pessoas sentem tanto zumbido que não conseguem ter
uma vida normal, porque o barulho persistente pode interferir
no trabalho, nos estudos, no sono e na comunicação
com outras pessoas.
Para diagnosticar as Labirintopatias muitas vezes é necessária
uma avaliação completa da saúde da pessoa através
de vários exames, e somente a partir da descoberta da causa é que
o médico pode definir o tratamento adequado.